terça-feira, 4 de outubro de 2011

O Pitaco do Badaró..


Como nesse mesmo espaço eu já disse em outros momentos, futebol e política estão intrinsecamente ligados por diversas razões e, aqui, segue mais um capítulo que trata dessa estreita relação entre política e futebol.
Antes de passarmos aos aspectos políticos do futebol lembro um espetacular filme: “A Onda”. Baseado em uma história real, em que um professor designado para lecionar sobre autoritarismo passa a trabalhar com os alunos de forma prática, tentando incorporar à sala de aula elementos típicos desses regimes. Em síntese, tal professor cria uma série de elementos comuns e identificadores daquele grupo, tais quais símbolos, expressões, gestos e bandeiras.
Ora, não é reflexão tão difícil perceber que os elementos apresentados no filme estão presentes também no futebol. A torcida, sobretudo quando se encontra no estádio, é um grupo de pessoas organizadas por uma série de símbolos e comportamentos comuns que são predominantemente manifestados nas arenas esportivas.
Vale uma nota: Antes que a inquietação ataque ao leitor, lembre-se que no futebol também se repete, de alguma maneira, o padrão comportamental político. Aqueles grupos mais mobilizados envolvem-se mais, frequentemente se manifestam e até pedem a “cabeça do presidente”. Mas, paralelamente, há uma massa de pessoas desmobilizadas que pouco se envolvem e que, quando muito, se interessam em saber o resultado de um ou outro jogo.
Mas a questão central que quero tratar é um aspecto comportamental não da própria torcida, mas do outro lado, do político, ou, no caso do futebol, dos gerentes/dirigentes. Trata-se da criação do “inimigo”.Novamente, o filme nos ajuda a ver a importância da criação de algum inimigo para que haja um fortalecimento de uma unidade interna. No caso do futebol, talvez por uma questão minimamente ética/profissional, o inimigo não costuma ser um time específico, apesar das tradicionais rivalidades.
Analisando o contexto mineiro, o América apresenta frequentemente, por meio de seus “políticos”, um discurso que traz a ideia de que o clube luta “contra tudo e contra todos”, uma ideia de que há uma conspiração contra o América que vem das mais diversas partes, incluindo as próprias instituições esportivas. O Atlético, por sua vez, é marcado pelas frequentes queixas às arbitragens. É comum vermos dirigentes se apresentarem, mesmo quando não há erros gritantes, questionando veementemente a atuação dos juízes. O Cruzeiro, por fim, elege como seu inimigo maior a imprensa. Para os celestes, a imprensa trabalha contra o time e é um dos obstáculos ao sucesso do clube. É claro que o inimigo nesses casos não é só um, único e estático, mas vários. De toda forma, os acima descritos apresentam-se de forma diferenciada e com maior frequência nos times citados.
No meu entender, esse posicionamento padrão consiste não exatamente em uma fuga de responsabilidades, mas um caminho que ajuda os dirigentes a manterem a unidade de seus torcedores com o time, mesmo quando a situação não anda tão bem. Em alguma medida, a criação de inimigos é também um processo político corriqueiro em diversos países justamente com esse intuito de criar uma unidade interna, nem sempre para mascarar uma má gestão ou algo que o valha. Me parece óbvio que não são equiparações, são processos bastante diferentes mas que de alguma forma apresentam elementos em comum. Talvez um bom tema a ser trabalhado com mais calma num futuro próximo.. O que acham?

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